Urucungo (1932)

"Pai-João, de tarde, no mocambo, fuma
E as sombras afundam-se no seu olhar.
Preto velho afoga no cachimbo as lembranças dos anos de trabalho
que lhe gastaram os músculos.
Perto dali, no largo pátio da fazenda,
umbigando e corpeando em redor da fogueira,
começa a dança nostálgica dos negros,
num soturno bate-bate de atabaque de batuque.
Erguem-se das solidões da memória
coisas que ficaram no outro lado do mar.
Preto velho nunca mais teve alegria.
Às vezes pega no urucungo
e põe no longo tom das cordas vozes que ele escutou nas florestas africanas.
Dói-lhe ainda no sangue as bofetadas de nhô-branco.
O feitor dava-lhe às vezes uma ração de sol para secar as feridas.
Perto dali, enchendo a tarde lúgubre e selvagem,
a toada dos negros continua:
Mamá Cumandá
Eh Bumba.
Acubabá Cuebé
Eh Bumba."
Obra esta que só foi publicada pela insistência dos amigos Jorge Amado e Echenique. Bopp a eles enviou os poemas-negros juntamente com uma carta na qual fica expressa a decepção do poeta acerca da recepção de suas obras.
__
FONTE: http://www.blogtribuna.com.br/ ;
www.onda.eti.br/revistaintercambio/conteudo/arquivos/1641.pdf
http://www.abralic.org.br/cong2008/AnaisOnline/simposios/pdf/042/VIVIANE_OLIVEIRA.pdf